quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Mude, texto de Edson Marques lido por Simone Spoladore

domingo, 23 de dezembro de 2007

"Extinção" de Régis Bonvicino, por Antônio Abunjanra

domingo, 16 de dezembro de 2007

fanzine PONTO DE VISTAS nº 01








Expediente
Ponto de Vistas é um fanzine produzido pelo Grupo Literário Vida e Olhos.
Número 1. Fortaleza/CE, agosto de 2007.






Autores:
Cristiano Rocha Lima (cristiano5079@yahoo.com.br)
Franz Michel de M. Aguiar (phranzmichel@hotmail.com)
Jivago Oliveira (jivagoliveira@yahoo.com.br)
João Paulo Matos (joaopaulomatos@gmail.com)
Lady Désirer






Ilustração da Capa:
Jivago Oliveira (jivagoliveira@yahoo.com.br)






Diagramação:
Fábio Nunes (fabionunes77@gmail.com)


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Primeiras Palavras...



É óbvio: é tudo uma questão de referencial. Um mesmo objeto, ao ser
encarado de ângulos distintos, revela-se sempre um novo objeto. Depende
do sentido pelo qual se olha (depende do que se procura; depende do que se
sabe sobre; depende...), e depende de quem olha – é, pensando bem, não é
tão simples, afinal, demanda muito subjetividade.
Imaginemos, então, hipoteticamente, uma situação – plausível e verossímil,
certamente. Imaginemos, agora, pessoas diferentes, diversos olhares
sobre situação. O que nós temos senhoras e senhores?
Simples: pontos de vista.
E deles fez-se este fanzine – o primeiro de muitos, espera-se. Após uma
breve conversa, o Grupo Vida e Olhos decidiu por realizar este trabalho. É,
mais uma vez, simples: cada um escreve como lhe aprouver sua versão dos
fatos, contanto que escreva.
Mas quais seriam, mesmo, os tais fatos?
Isso, os tais fatos, foi decidido em conjunto, dentro de um segundo momento.
Várias propostas foram dadas (considerando sempre que trabalhamos
com uma situação ficcional), e a escolhida, depois de um sorteio foi
adultério.
Entretanto, não qualquer adultério: um marido chega em casa e encontra
a mulher transando com um amante; em um acesso de fúria, o marido
tenta agredir os dois, mas acaba apanhando do amante...
O que se dá depois? Qual a reação dos três a isso tudo? São justamente
essas perguntas, entre outras, que nos motivaram a escrever os seguintes
textos. Aproveite-os, e lembre-se sempre: são apenas pontos de vista.


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Abri-me
Lady Désirer
Abri-me.
E toda minha carcaça foi revelada.
A ultima gota de vergonha foi
cuspida com o primeiro espasmo.
Os lábios, antes pudicos e ressecados,
agora eram dilatados por uma língua
melada e obscena.
Um bafo quente misturado com gemidos
penetrou na minha cabeça e embriagou minha
consciência.
Lágrimas, salivas e suor empestaram meus
princípios com o cheiro de animal no cio,
Animal que me violenta, me lambe, que penetra
em minha carne inflamada e dilacera
minha moral.
Estou indefesa, escancarada, sendo manipulada
pela Puta que antes fingia
embernar nas curvas de minhas entranhas e
que agora escapa, ouriçada, pelos poros inflamados
de meu corpo.


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Depoimentos I


João Paulo Matos
Foi tão depressa, tão depressa. É estranho, sabe? Ela era minha
amiga, minha amiga... – acho que vou passar mal – Vi tudo, desde o
comecinho: os dois, mortos de apaixonados, vieram morar aqui ainda
recém-casados, ainda naquela fase em que tudo dá certo, lua de mel.
Sabe como é, né? Ela era dondoquinha, sabia nem usar uma batedeira,
eu que ensinei. Eram um grude só, o Senhor precisava ver, não sei
como foi dar nisso; aliás, sei... O primeiro ano foi uma beleza, mas do
segundo pra cá... ela me contava tudo, sabe, acho que só pra mim, só
podia contar pra mim...era minha amiga... Bem, depois desse ano bom,
ele começou a desandar... todo mundo achava que era coisa de homem
mesmo: chegar tarde, bêbado, às vezes, apostar sinuca. Sempre
era “o amigo” que o trazia em casa, ela começou a estranhar. Belo dia,
sentira-se grávida. Vida nova, ele novo de novo, lua de mel de açúcar
queimado. Já com idéia-fato, ela sai a comprar o enxoval, chega mais
cedo e flagra o marido e “o amigo”, qual dois cachorros, um a cheirar o
rabo do outro – bi-cho-na! Perdeu o filho ali, na boca do quarto. Quando
saiu do hospital, o marido era outro: privou-a do contato com as
pessoas (talvez medo do ridículo...) – só quando ele saía que ela vinha
conversar por aqui... devido à perda do filho, perdera muito sangue e
tudo mais, começou tratamento ginecológico, e um romance com o
médico. E a história se refez ao avesso. Um dia, ele chegando em casa
um tanto mais cedo, dá de cara com ela e o médico. Disse que ia matar,
mas acabou levando esparro. Ganhou mas foi um olho roxo. E saiu,
e deixou a mulher com o amante ainda em casa. Saiu, nem se despediu,
ou seja, voltaria. E voltou. De madrugada. Armado. Dois tiros: um
na barriga e outro na cabeça. Sangue por tudo que era lado. Os miolos
dela no chão. Ele tremendo igual Toyota em ponto morto, arma ainda
na mão, fumaçando. Bicha de merda, trai a mulher e num deixa nem a
pobre ser feliz com outro. E agora o Senhor ainda me diz que ele matou
o Doutor também. Estou com medo, e se ele souber que eu sei de
tudo isso?


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Uma Noite Alucinante
Cristiano Rocha Lima
Mais um dia de tormento havia chegado,
Mais uma vez sofreria por não tê-la em meus braços,
Mais uma vez sofreria por vê-la nos braços de outro,
Mais uma vez seria apenas um conhecido seu

Depois de conhecê-la, o desejo tomou conta de mim
Tentei lutar contra esse sentimento, porém foi inútil
Meu desejo por aquela mulher do lar era tão grande
Que me levou a tomar uma atitude,
Confessar todos os meus sentimentos a ela

Ao cair da noite, quando seu marido estava ausente
Fui até sua casa e disse tudo o que sentia
À medida que ia falando, pude ver nos seus olhos
As chamas do desejo, as mesmas que tanto me consumiam

Sem poder me conter mais a beijei,
Beijei-a como jamais o havia feito
Com nenhuma outra mulher,
Foi simplesmente a combinação da paixão e o desejo

Logo nos encontramos despidos no meio da sala,
Envoltos em uma atmosfera de pura sensualidade e prazer,
Trocando carícias em meio a beijos ardentes,
Sem nos preocuparmos com mais nada,
A não ser com a interação de nossos corpos

Seus lábios quentes e macios tocavam todo o meu corpo,
Meu sangue fervia ao sentir cada toque,
Logo me encontrei fazendo o mesmo,
Deixei que meus lábios viajassem por todo o seu corpo
Queria fazê-la sentir o que senti

Nossos corpos pareciam estar intimamente ligados,
Finalmente nos tornamos um só corpo,
Chegando ao ápice do nosso ato adúltero,
Repleto de prazer intenso
Ao qual havíamos nos entregado loucamente

Bom, muitos vão dizer que fiz uma loucura,
Outros vão dizer que cometi adultério,
Mas eu, eu digo que vivi
Vivi como jamais havia feito antes


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O Traidor
Jivago Oliveira
“Puta que pariu, tô lascado!”. Foram as únicas palavras que consegui
dizer diante de minha situação atual. Nu e com o corpo ainda
coberto de suor eu buscava na memória como eu tinha acabado aqui,
olhava ao redor tentando encontrar uma saída, mas era inútil, não
existem homens tão idiotas hoje em dia que caiam no truque do armário,
tava lascado e tinha nos olhos dela a confirmação.
– Abre essa porta! – gritava com um ódio dantesco o corno do outro
lado, ficava imaginando por quanto seria multiplicado esse sentimento quando
ele visse quem estava deitado na sua cama, com sua mulher.
Se procurarem no dicionário o significado da palavra cafajeste
encontrarão, emoldurada com dourado, a minha foto de corpo inteiro.
Como pude fazer isso com o Alexandre, depois de mais de vinte anos
de amizade, o cara que mais me ajudou quando bati o carro do meu
pai aos 17 anos, que segurava para mim o gato da vizinha enquanto eu
amarrava as bombinhas no seu rabo, o meu melhor amigo, que me
consolou quando, naquela sexta-feira maldita, eu brochei com aquela
prostituta, agora olha como o retribuo, eu sou um canalha completo.
– Abre essa porta, sua vaca! – gritou mais alto ainda, e para que os
vizinhos não ouvissem, a vaca obedeceu e abriu a porta.
O homem entrou no quarto como um touro, quase arrancou a
porta com dobradiça e tudo, soltando fungadas demoníacas ele balançava a
cabeça de um lado para o outro a procura do algoz de sua honra e
quando me viu em cima de sua cama, despido e molhado de suor, seu
rosto tomou uma forma estranha, mista de raiva com decepção
e algumas pitadas de tristeza, virou-se então para sua mulher,
que continuava do lado da porta e deu um suspiro profundo criando uma
pausa que me fez envergar de vergonha...
– Como você teve coragem...
...Meus olhos nesse momento começaram a se encher de lagrimas...
– Não bastava ter que me trair, teve que fazer isso com meu melhor amigo...
...Deixei minha cabeça cair entre os joelhos...
– Ainda mais um amigo brocha!...
...Como é? Levantei a cabeça, ele falou “brocha”?
– Que não possui quaisquer qualidades...
...Enxuguei minhas lagrimas, ele falou “brocha”?
– Que nunca respeitou ninguém...
– Você falou “BROCHA”?
– Falei sim, canalha, você é um brocha desgraçado desprovido de
caráter, tratar um amigo de tantos anos dessa forma... Tanto que lhe ajudei e é assim que você me retribui...
“Brocha”? Depois dessa palavra não consegui mais ouvir nada do
que ele falava, a que ponto chegamos! Olha o nível que uma besteirinha
de nada pode chegar! “Brocha” não posso acreditar que o Alexandre
disse uma coisa dessas, depois de tudo que passamos, cadê o comprometimento
e o respeito de um para com o outro? Como ele teve coragem
de revelar uma coisa tão pessoal assim, sem mais nem menos?
Destruir a honra de um amigo por uma mulher dessas, essa vadia não
merecia tanto. “Brocha”, o que diria meu bisavô numa hora dessas, a
primeira geração dos gonzagas, treze filhos registrados e outros tantos
bastardos por aí no mundo, e meu avô? Conhecido como a “lebre
do sertão”, o que diriam meus cinco irmãos? “Temos um impotente na
família”, “um estéril”, meu pai me deserdaria com certeza, minha mãe
e minhas tias me olhariam com um olhar de desprezo cochichando
pelos cantos sobre minha incapacidade, “a desgraça dos garanhões
Gonzagas”, o membro que irá trincar a heráldica, reluzente, da família. Eu não
mereço isso, Alexandre, o meu pecado não foi tão grande quanto é minha
pena, humilhação deve ser paga com humilhação, irei lhe mostrar que não
sou feito apenas de falo, mas também de sangue, sangue este que entrou em
ebulição e seu vapor se acumulou nos meus punhos...
– ...Quinze anos de casamento jogados dessa forma no limbo, e
esse canalha ainda foi o padrin... – Antes que ele podesse completar,
como num susto, pulei da cama em sua direção e sem preliminares
carimbei seu olho direito com um murro que o fez voar até a parede
do outro lado do quarto e enquanto se levantava apontei o dedo para
sua cara e falei com todo o ódio do mundo:
– escute bem, Alexandre, de todas as traições que já sofri em minha
vida essa foi a maior, por causa do resto de respeito que ainda lhe
tenho foi que não te machuquei mais, agora só falo uma vez, saia daquie nunca mais olhe na minha cara!


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Mamom Não Compra Esposa Fiel
Franz Michel de M. Aguiar
Pelos botecos e bares
afogando angústias e azares
vaga um homem rico porém desiludido
inconformado e traído
por promessas vãs de fidelidade
e incondicional amor
que resgataram animosidade
ódio e rancor
de um coração doente,
demente,
dormente
despertando no homem o mal
inerente.

E assim devagar divagando
acerca de sortes,
vidas e mortes
vários drinques ele vai tomando
de absinto, yayin ou fel?
Lágrimas, cuspe e suor molhando o papel
de uma carta a um traído poeta
na qual diversos versos imersos
de insônia vil e abjeta
mas o ébrio e trágico poeta os enxerga dispersos.

Carta no bolso, lágrimas no coração, é hora de ir
dinheiro para o garçom e um tributo a Mamom
pois ele só não compra a felicidade de quem não o tem.
O pensamento na cabeça, consolo no coração, na cabeça um calor morno
dos chifres de um romântico poeta corno.


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Lacunas
João Paulo Matos
Largou-se à mesa, massa amorfa, pesada: geléia sem ossos. A face
lisa, sem expressão alguma, como um pires, exceto por um puta olho
roxo. Todo ele parecia ser um imenso olho roxo naquele bar vazio.

O garçom, como sempre, pede pra ajudá-lo. Ele pede uma cerveja.
O garçom, solícito, leva-lhe a garrafa e deixa-a sobre a mesa. Ele
também. A noite simplesmente não anda.

Pede um copo com gelo e um uísque – cow-boy. Mais uma vez
atendido prontamente (ambiente vip, quase exclusivo, não fosse pelo
alemão e as duas prostitutas), põe o gelo sobre o olho roxo. Bebe o
uísque, devagar, quase sem vontade. Os ossos vão-se-lhe encaixando
aos poucos. Pede mais outra, e outra, e outra dose... o litro todo. Praticamente
água.

Movimentava as mãos agora. Puxava os cabelos, grunhia, batia
na mesa e bordejava. A face pálida agora era carne congelada, hirta de
gelo. Decidira-se.

Deixou um cheque em branco sobre a mesa, levantou num frêmito
súbito, cruzou o bar e foi-se.

O alarme do carro do alemão soa estridente.




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